Elsa Villon
A mais breve viagem internacional
O clique foi feito de dentro do carro em movimento, em julho de 2011. Estava no Mato Grosso, rumo à comunidade rural e aldeia chiquitana quando o assistente do prefeito de Porto Esperidião perguntou se eu não gostaria de conhecer a Bolívia, afinal, estávamos próximos da fronteira. Eu, paulista que jamais havia saído do país, aceitei de pronto. Foram cerca de 40 min por uma estrada de terra que abrigava cemitérios nas laterais. Entre ir, conhecer o vilarejo e voltar foram apenas 160 minutos, o que pode configurar minha estadia na Bolívia como a mais breve experiência internacional do lado de fora de um aeroporto.
Ao cruzar a fronteira pela rota normalmente usada por traficantes, fomos parados pelos soldados do Batalhão de Fronteira do exército boliviano. Eles questionaram quem éramos e o que queríamos no pobre vilarejo. Explicamos e eles abaixaram as armas e passaram, pedindo apenas um favor: que na volta levássemos uma Coca-Cola, pois estavam há horas parados de pé no sol e morrendo de sede.
Nossa presença foi logo percebida e fui instruída a não fotografar, pois chamava muita atenção e era uma região perigosa. Obedeci, abrindo exceção apenas para o retrato de alguns moradores, com a câmera escondida em um ângulo estreito da janela.
Foi quando avistei esse garoto. Não sei seu nome, sua idade, qual o seu doce favorito. Sei apenas que ele estava sozinho nessa pequena venda, atento a todos os olhares. Exceto o da minha câmera.
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